sexta-feira, 4 de março de 2016

Hora do Back

Por mais absurdo que pareça,
Há uma lógica que esclareça,
A desnecessidade que eu mereça,
Um minuncioso exame de cabeça

Mas se me perguntassem agora,
Sobre a idéia de voltar no tempo,
Responderia "Claro!" na mesma hora,
Sem qualquer tipo de constrangimento

Trocar toda a evolução da tecnologia,
Por uma caminhada despreocupada,
Me faria sem dúvida uma grande alegria,
Especialmente poder voltar de madrugada

Já está mais do que provada a nossa involução,
Da inteligência não caminhamos na mesma direção,
Apenas a ciência seguiu na correta mão,
Recuar seria uma realista forma de proteção

Nem saberia dizer qual o ponto ideal,
Creio ser um onde a vida era normal,
Ir e vir não era cogitado como risco,
No caso de se parar e comer um petisco

Ou onde os pilares do respeito fossem ainda sólidos,
Longe dos atuais constrangimentos melancólicos,
Fazendo da paternidade um caminho insólito,
Sugando a humanidade e banalizando o óbito

Entre o barulho da onda e o acesso a rede,
A perfuração da sonda e o côco matando a sede,
O smartphone apitando e o caminho ainda verde,
A democracia agonizando ou até a pé poder rever-te

Preferes seguir tentando ou posso comigo inscrever-te?

Pois ao que parece tenho tudo em casa,
Menos a elementar qualidade de vida,
Da minha cama converso com a NASA,
Mas tenho medo de bater papo na esquina

Não existe mais relacionamento interpessoal,
Que não passe pelo ambiente digital,
Ninguém conversa se não for conectado,
Mesmo que a pessoa esteja bem ao seu lado

Se isso fosse no século passado
Imagina o tamanho do problema,
Distraídos nem teriam nela reparado,
Os autores da garota de Ipanema

Se inexiste a capacidade para o uso,
Têm-se uma forte tendência ao abuso,
Tornando o convívio algo muito confuso,
Entre os que vêem o conceito de modo difuso

Então nesse caso melhor nivelar por baixo,
Voltar a um ambiente em que me encaixo,
Ir no pé e colher aquela fruta no cacho,
Não ter problema em ser chamado de macho

Pena ser isto apenas um triste devaneio,
Nada mal poder conversar e rir na praça,
É da alma um alarmista e gritante anseio,
De sobreviver ao caos atual com alguma graça...

Quem sabe antes do fim dos tempos,
Hajam novamente aqueles doces momentos,
Sem a necessidade de outra era do gelo,
Fica daqui meu reticente apelo...

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