segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Mais um legado da ganância...

Pros que viveram o que eu vivi...

Ah meu bom lugar,
O que fizeram com você,
Não podes mais me abrigar,
Mal posso lhe reconhecer

Me lembro quando te conheci,
Éramos jovens e desconhecidos,
Tantas coisas boas contigo vivi,
Noites lindas e dias amanhecidos

Tinhas a aurora de uma fazenda,
Com as facilidades de uma cidade,
Clima pacato de temperatura amena,
De modo perfeito para todas as idades

Eu podia sair e andar pelo dia inteiro,
Por onde passasse encontraria uma fruta,
Tinha opção literalmente de janeiro a janeiro,
Sem a preocupação de quem o paraíso desfruta

Como o mundo fomos crescendo,
E vivendo novas experiências,
Nossa forma foi se refazendo,
Mas eu mantive toda a minha essência

Lembro dos tempos de colégio,
Quando ir de bicicleta era a aventura,
Hoje fazer isso seria um sacrilégio,
A paisagem fazia uma linda moldura

Os amigos eram conhecidos pelos pais,
"Esse é o fulaninho filho do seu fulano"
Hoje em dia por ai não se conhecem mais,
Perdeu-se a referência comum no meu cotidiano

Era normal andarmos em bando,
Cada "patota" era de uma rua,
Boato de alguma ameaça causava espanto,
Podia-se ficar na madrugada olhando a lua

Em seus recantos descobri o amor,
No alvorecer da minha adolescência,
Em suas ruas me diverti sem pudor,
Sua segurança protegia a minha inocência

Um triste dia acordei e não  encontrei,
Coisas básicas que eram da minha infância,
Confesso que não entendi e muito relutei,
A forma como acontecia tinha muita discrepância

Descobriram o seu potencial,
Despertastes a semente da ganância,
Fostes  vítima tal qual um animal,
Que fascina pela sua elegância

Dizimaram quase toda a sua natureza,
Consumaram o melhor que você tinha,
Acabaram com aquela rustica pureza,
Tudo em prol de uma intenção bem mesquinha

E hoje ando por suas ruas de dedo em riste,
Procurando pelos lados olhando bem triste,
Constatando sem forças que não mais existe,
O lugar que escolhi morar por mais que te bem quiste

Fico nostálgico reconhecendo a violência,
Sentindo saudade da minha adolescência,
Tentando em algum pedaço pouco  dilacerado,
Encontrar algo daquela boa experiência

Esse parece ser o preço que cobra o progresso,
Te deixar a vontade pra depois cobrar o ingresso
Eh cruel a ideia e me parece sem nexo,
Desagrada a apnéia desse mundo sem regresso

E assim vou andando me sentindo perdido,
Gostaria de alguma forma de ter te protegido,
Mas mesmo que eu queira uma forma não há,
Sinto falta do que fostes... querido Jacarepaguá...

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