quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O que é prisão afinal?

Imaginem uma solitária sem grades,
Que nem mesmo apresenta paredes,
Do cenário esperado nenhum dos alardes,
Ou daquele ambiente qualquer dos afazeres

Mas que ainda assim é capaz de sua função,
Isolar do convívio como forma de punição,
Descartar como alívio uma eventual comunicação,
Decretar como o fim a mais estúpida solução

Agindo tal qual a inóspita e sombria construção,
Que inflige com excelência na arte da privação,
Aterroriza dentre outras pela falta de iluminação,
Causando na lucidez abalada um verdadeiro apagão

Subjetivando assim o conceito de liberdade,
Afinal em teoria é como se rege a sociedade,
Não estando preso então se encontra livre,
Desconhecendo o óbito logo é porque você vive

Pelo menos é como digamos aqui se pensa,
Observando que nesta idéia não se considerou a doença,
Claro que portanto o espectro é bem mais amplo,
Porém dariam horas de escrita explorar esse campo

Mas voltando ao tópico selecionado,
O paradoxo se mostra bem explicitado,
No corpo detento daquele cérebro resignado,
E na mente danificada do cidadão inanimado

Os dois encontram obstáculos intransponíveis,
Mas apenas um deles foi por opção,
Com a quantidade de recursos disponíveis,
Qual deles não precisava estar nesta situação?

Pra quem ainda não entendeu tentarei desenhar,
Mandela esteve lá por décadas sem se deixar abalar,
A Miss Brasil nem de longe e não conseguiu escapar,
Quando a esperança é impalpável não importa mais o lugar

Bem como independe a natureza da tentativa de fuga,
Para se ver distante dali qualquer senso se muda,
Procura-se abrigo no colo de qualquer religião
Dá-se um passo no espaço mesmo a metros do chão

O que me leva a indagar sobre o que é condenação,
Qual a mais cruel, a do delito ou a da emoção,
Uma te procurou, a outra você vai buscar,
Por optar a vida lhe facultou, resta saber como irás lidar

Pois para ambas existe algum tipo de amparo,
E hoje em dia até mesmo boas práticas de reparo,
Mas é necessário agir com muita coerência,
Pois como se nota, depressão ou reclusão são meras questões de referência...

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Apenas um Palhaço

E pensar que gente assim existe pra fazer-nos evoluir...

O comportamento é tido como um clássico,
Neste mundo onde inexiste a coerência,
Sua má índole corrói como um ácido,
Seu destempero tem paridade na indecência

Desconhece a prática da humildade,
Acredita ser o dono de toda a situação,
E ao ser retaliado e trazido à realidade,
Fica sem graça e jura ter aprendido a lição

Mas eis então que seu caráter aí se mostra,
Fazendo falsa denúncia sem direito a defesa,
Esperando apenas virar para apunhalar-me as costas,
Afirmando a todos ser vítima de suposta rudeza

Quem precisa sabe qual é a verdade,
Como foi a dinâmica do real acontecimento,
Por isso permaneço em minha serenidade,
Mesmo repudiando dos outros o pré julgamento

Que dele simplesmente compraram o barulho,
Numa inversão de valores bem corriqueira,
Num corporativismo que condena ao esbulho,
Pra proteger mesmo quem erra, independente da maneira

E olha que haviam testemunhas oculares,
Imagina se eu estivesse por ali sozinho,
Minha reputação teria ido toda pelos ares,
Do RH já ouviria a chamada me excluindo

Mas diz o ditado "aqui se faz aqui se paga",
E desta inexorável dívida não serei eu o cobrador
Talvez nem saiba como será o fim de sua saga,
Porém terei o regozijo de saber que haverá alguma dor

Em me perguntando sobre a estória do perdão,
Direi apenas que este é um ato divino,
Sendo humano prefiro mandar-lhe a mão,
Se não sabes ser homem eu prontamente lhe ensino
E vou repetindo com muito prazer a lição
Até aprenderes a respeitar o meu destino

Porém nesse xadrez de estilo comportamental,
Nossas peças possuem diferença de valor,
Ainda teremos algum encontro casual,
Meu xeque mate aguardará pacientemente o seu sabor

Fica tranquilo você não me fará de escada,
Só toma cuidado pois não sabes voar,
Quem sabe te assisto cair em própria cilada,
Ou apenas de longe presencio o teu despencar

Afinal fruta podre cai sem ajuda,
E nesse quesito tens forte talento,
Competência não tem só quem estuda,
Se não compreendes até hoje, Só lamento...

sábado, 6 de agosto de 2016

Operação Cafofo VI

Era pra ser o ápice daquela festa,
Motivo de sonho por dias seguidos,
Não imaginava uma coisa como esta,
Sendo pivô de um caso quase perdido

Cada fase num projeto tem um ídolo,
Uma simples lâmpada teve sua glória,
E nesse caso o aquecedor era o símbolo,
Do banho quente que entraria pra história

Previamente consultando a imobiliária,
Assegurada a presença da infra necessária,
Nenhuma condição restava que fosse contrária,
Vamos a loja aproveitar a situação erária

E assim fomos e voltamos contentes,
Só pra variar dando carona a outras lembranças pertinentes,
Pega a furadeira e todos os adaptadores,
Que hoje vai ter banho com sais e vapores

Tudo certo ficou uma graça ali na parede,
A namorada no trabalho mando até uma foto,
Uma latinha da bolsa térmica pra saudar e matar a sede,
E vamos testar e foi quando finalmente eu noto...

Houston temos um problema
Foi a frase que me veio à cabeça,
Pois ali começaria o meu dilema,
Do tipo que não se acredita que apareça

Não considero isso falha de comunicação,
Foi uma clássica atitude de péssima fé,
Ao me informar sobre a real situação,
A funcionária não citou como de fato ela é

A residência verdadeiramente está preparada,
Mas a rua onde ela fica infelizmente não,
Então a estrutura que lhe foi separada
Nunca teve qualquer tipo de utilização

Com o sangue nos olhos e a faca no dente,
Queria dizer coisas que a fariam chorar,
Mas tinha a busca de uma solução urgente,
Então o esporro merecido podia esperar

O que mais me doeu foi não poder trocar o aparelho,
Só por ter tirado da caixa por um único dia,
Mas a ira em meu olhar assustava até o espelho,
Comprei outro e já configurado pro jeito que viria

Se o gás natural não vem então ele vai,
O que não rola é banho de chuveiro elétrico,
Inverte o esquema e alimenta de onde sai,
Manobra simples ante um contratempo manométrico

De quebra ainda organizei melhor a cozinha,
Tirando o botijão de dentro dos seus domínios,
Nenhuma unidade tem instalação como a minha,
Mal cheguei e tô fazendo fama no condomínio

Agora sim ouço o som da minha vitória,
Aquele click bum do acendedor automático,
Servirão para eternizar que nenhuma tarefa inglória,
É capaz de deixar um obstinado apático...

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Falha de comunicação

Era uma vez uma digamos donzela,
Com um certo apetite por coisas erradas,
Gostava de frequentar baile de favela,
Se drogar em orgias e também outras farras

Vivia sua vida sem atrapalhar quase ninguém,
A não ser o pobre do seu responsável,
Que questionavelmente não foi muito além,
E a deixou seguir num caminho lamentável

E ela foi com bastante eficiência,
Se graduou com louvor em incoerência,
Do tempo em que agia com inocência,
Só a foto ainda guarda uma remanescência

E no auge desta insana falta de perspectiva,
Querendo talvez testar sua elasticidade,
Quis afrontar de forma respectiva,
Sua jovem vida e a própria sexualidade

Como antes já havia loucamente feito,
E cujo resultado hoje vive nos braços da avó,
Mas nem ela dessa vez imaginava o efeito,
Pela falta de sigilo a brincadeira virou pó

Fez o que quis com quantos teve vontade,
Mostrando se tratar portanto de uma banalidade,
Só não contava que alguém nessa atividade,
Fosse filmar e contar para toda a cidade

E o que era apenas uma simples putaria,
De repente virou uma tremenda histeria,
Na comunidade causou grande correria,
Todos negando participação ou autoria

Sem contar a merda que deu no quesito legal,
Deu policia prometendo que ia enquadrar geral,
Além de não se falar de outra coisa no jornal,
De promíscua a celebridade sua ascensão foi sensacional

Ostentando a moralidade até o presidente pegou carona,
A tribo do suvaco peludo e seio nu quase surta de tanto protesto,
Classificaram todos os homens como non grata persona,
Apenas o delegado teve um comportamento racionalmente modesto


Mas como toda aparição meteórica,
Foi assim que sumiu do coletivo cenário,
A multidão antes indignada e eufórica,
Já voltou a se preocupar com o salário

De uma coisa dela não se pode falar,
Sempre cumpriu tudo o que prometeu,
Disse para todos que só queria era dar,
Não entenderam o recado e todo mundo se fodeu...

Pequeno Formulário Amoroso

Quem de nós não teve em sua infância,
Aquele momento de pura indagação,
Vendo um sentimento de extrema importância,
Pela primeira vez e sem ter nem uma mão

Muita gente poderia ter sido mais feliz,
Se tivesse recebido algum tipo de ajuda,
Então aqui vai para o pequeno aprendiz,
Uma dica valiosa pra alegria evitar a fuga ;)

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Pequeno formulário amoroso
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Com licença me desculpe te incomodar,
É que tenho um problema e não sei como lidar,
A pouca idade não me deixa ainda argumentar,
Mas sem saber como acho que acabo de me apaixonar

Só isso explicaria a vontade de vencer a timidez,
E tentar de alguma forma a comunicação,
Se esta não der certo posso experimentar talvez,
Uma outra forma de sensibilizar seu coração

O fato é que eu precisava te contar,
Você é a primeira pessoa de quem venho a gostar,
Não faço idéia de como devo me comportar,
Tudo que sinto é ao seu lado querer ficar

Não se preocupe em ter que responder agora,
Estou nessa confusão já tem algum tempo,
Espero sem problema o dia que chegar a sua hora,
Ficaria muito feliz de compartilhar esse momento

Somos muito novos mesmo nos dias atuais,
Para além de um abraço carinhoso ter algo a mais,
Pelo menos é isso o que afirmam os meus pais,
Mas saber que sou correspondido(a) já seria bom demais

Com sete anos esta é uma atitude rara,
O normal aliás é que você ria da minha cara,
Ou fique com vergonha compreensivelmente num gesto contido:
Porém se nada disso for, gostarias de namorar comigo?

Não tenho muita coisa para te oferecer,
Além de um grande amor e o lanche da escola,
Entretanto se puder me esperar crescer,
Te prometo um namoro show de bola

E se não for o caso de acontecer assim,
Podemos então cultivar uma bela amizade,
Ficará tudo bem se não estiver a fim,
Aprendi que não existe obrigatoriedade

Posso enfim respirar com certo alívio,
Nada fácil paquerar alguém do convívio,
Peço antes de tudo para por favor não se chatear,
Irás me entender quando o seu momento chegar...

Já da pra parar

É gente tá bom já dá pra parar,
Não tem mais nem o que dê pra falar,
Quero descer é demais pra mim continuar
Ficou surreal ao extremo viver nesse lugar

Morre um policial todo dia não se fala nada,
Faz-se um protesto em agonia e a mídia calada,
O governo em demagogia e a população inanimada,
Acontece uma orgia e SÓ ENTÃO aparece gente indignada?

Nem perderei tempo sobre o mérito da questão,
Idiotice e hipocrisia aqui são questões de opinião,
Repugnante deixou de ser uma mãe com uma prole que não se alimenta,
O problema é divulgar bacanal e enaltecer quem sequer se sustenta

É tudo tão maluco que quase me perco,
Não fizeram apenas o que dizem as letras cantadas?
Então se há referências de ampla forma disseminadas,
Por que a crítica sobre a decisão tomada?

O que se esperava de uma associação de fatores,
Onde inexiste qualquer ocorrência de valores,
Cuja má índole e administração são autores,
Coerência e evolução com direito a flores?

Enquanto se achar uma coisa normal,
Criança dançando em apologia ao sexo,
E estatuto dizendo repreender ser ilegal,
Teremos outras novinhas agindo sem nexo,
Bem como inocentes perdendo pro bonde do mal..

Um dia me perguntaram

Perguntaram sobre a fase mais difícil da minha adolescência,
Disse ter sido tentar acudir com excelência,
A quem foi vitima de uma cruel imprudência,
Daquele que não soube agir com a mínima decência

Ninguém é obrigado a fazer o que não quer,
E isso inclui a esfera do relacionamento,
Sendo Homem e insatisfeito com sua mulher,
Bastava seguir um simples e correto procedimento

Comunique-se de maneira clara e objetiva,
E siga em paz na busca do que então deseja,
Mesmo que o litígio seja a única alternativa,
Já está declarado aquilo que você então planeja

Mas infelizmente nada disso ele fez,
Pelo contrário parecia ter sido premeditado,
Inexplicável agir com tamanha insensatez,
Ferir assim quem dormia feliz ao seu lado

E numa trágica noite que bem me lembro,
Meu processo de amadurecimento aceleraria,
Com 13 anos numa noite de 23 de dezembro,
A minha mãe e eu na sala meu pai deixaria

O argumento usado era ter conhecido outra pessoa,
E querer vivenciar com esta uma nova experiência,
Só esqueceu do detalhe de que não se magoa,
Sua família por pura questão de conveniência

E como seria logicamente previsível,
O ano seguinte começou horrível,
Com direito a acidente de carro terrível,
E um aproveitamento escolar sofrível

Enfrentei da matriarca uma forte depressão,
Nunca a tinha visto tomar remedios controlados,
Sabia que não podia demonstra-la desilusão,
Só tinhamos um ao outro e lado a lado

E fomos segurando como deu a nossa barra,
Pedindo a fé que aguentássemos o que o tempo precisava,
Eventualmente procurando fazer alguma farra,
Se não afastava a tristeza pelo menos a desviava

Porém como não há mal que sempre dure,
Nem um coração que nunca se cure,
Um dia houve de cessar nosso tormento,
Pra variar estava lá quando ela sorriu em um novo momento

E enfim encerrou-se a minha pior fase,
Que ao menos para a vida me daria base,
Pra saber como proceder em situaçoes de crise,
Bem como daquelas cenas jamais promover a reprise...

Que mundo é o seu?

De repente me veio a lembrança daquele terraço,
De sua vista bucólica com aquele amasso,
Da vida contida naquele perene compasso,
Do mundo que cabia em um simples abraço

Não se trata de uma onda de saudosismo,
Mas negar a memória seria um cinismo,
Ainda mais tendo sido esta tão positiva,
Por que renegá-la ou torna-la inativa?

Era um mundo cheio de possibilidades,
Onde se podia desenvolver várias habilidades,
Entreter era uma arte feita de pura invenção,
Onde a principal ferramenta era a imaginação

Dentro de casa só estando de castigo,
Ou em caso de estudo, no máximo doente,
Fora isso era geral na casa de um amigo,
Ou na rua do café da manhã até o poente

As vezes com a forçada pausa pro almoço,
Dependendo da distância percorrida ou atividade,
Senão era fruta do pé e banho de poço,
Pra poder se reapresentar com alguma dignidade

A grande e triste diferença do mundo atual,
É o incrível e lamentavel tratamento impessoal,
Tem-se toda uma infraestrutura de comunicação,
Que paradoxalmente une a todos e os condena a solidão

Vidrados em suas coloridas telinhas,
Conversando através de inúmeras linhas,
As meninas deixam de visitar as vizinhas,
E os meninos quase não disputam as coloridas bolinhas

Inverteu-se a lógica da interlocução,
Hoje se conhece através do contato compartilhado,
Não se tem mais o prazer ao vivo da apresentação,
Nem o frio na barriga da sensação de ter gostado

Quase desconhece esta nova geração,
Em sua atmosfera predominantemente individualista,
O que já se passou pra andar segurando na mão,
Ou se sonhou brincando de salada mista

Se por acaso acabar a energia na casa,
Ou uma chuva interromper a banda larga,
Fica explícito como o comportamento do nosso defasa,
Quando da falta de opção o jovem de hoje se amarga

Como se conversar fosse algo antiquado,
Interagir pessoalmente um modelo inadequado,
Parece que só se vê esse povo em grupo,
Se for alcool ou algum jogo online o fruto

Sinto por aqueles que desconhecem a experiência,
De um fim de semana num acampamento,
Ou de uma ida com a galera na feira de ciências
Por serem as memórias que ficam com o tempo

O mundo digital é sem dúvida muito sedutor,
Porém em igual escala se revela imparcial,
Se acabar a transmissão acabou todo o amor,
Pelo menos com os amigos da pra curtir o comercial....

Operação Cafofo V

Eu não sei nem como começo esse relato,
De tão surreal que é o motivo deste desabafo,
A vontade é de praticar um ato insensato,
Chamando pra porrada o alvo do desagrado

Só não dou segmento nessa desesperada reação,
Por saber que nela não haverá a esperada recepção,
Pois o maldito do problema possui recursos a mais
Que me atrapalham na hora de explodir seus anais

Mas não existe mal que sempre dure,
E eu sou muito mais inteligente do que ele,
Chegará o dia em que sua cabeça eu pendure,
Ou um balde de gasolina talvez jogue nele

Minha dificuldade maior de aproximação,
Se deve a peculiaridade desta construção,
Onde para ventilar a casa existe um vão,
Feita pelo retardado do construtor sem nenhuma obstrução

O resultado de tal obra é uma festa no puteiro,
Na qual vem pombo pra cagar o dia simplesmente inteiro,
E ninguém consegue usar a área da lavanderia,
Pelo menos não como se deve ou gostaria

Devido a complexidade em função da altura,
Pra resolver o caso não é qualquer tipo de estrutura,
Logo isso meio que inviabiliza o acesso,
O que até agora está me deixando apenas pocesso

Porém como bom brasileiro não fujo da luta,
Vou quebrar esses alemão de pena tudo safado,
É bom sair logo voando daí seu filho da puta,
Já comprei 5 pacotes de gamo esteja avisado....

Operação Cafofo IV

E ao fim da luz que contemplou o primeiro dia,
Chegou a hora de conhecer o lado escuro,
Só tinha lâmpada no banheiro quem imaginaria
Que o ex morador iria carregar quase tudo

No tocante ao suporte à vida tem tudo perto,
De casa de massagem até lugar pra festa de família,
Então nesse começo está bem se não forem bem cobertos
Os primeiros sonos por falta de adequada mobília

Dá aquela sensação de estar em acampamento,
E de que em breve riremos de tudo isso,
O que também valoriza bastante o momento,
Faz querer eternizar de certa forma o compromisso

Os carros passam ecoando dentro do quarto,
Diferente do silêncio consagrado de outras eras,
Pra recuperar o nível de privacidade portanto não descarto,
Colocar um filme bem preto em todas essas janelas

Antes no meu mundo havia uma fonte inesgotável
Portanto ninguém regularmente se preocupava
Agora pra poder armazenar água potável
Só uma caixinha que mal enchia e esvaziava

E nesse primeiro dia como seria previsto
O banho foi gostoso mas sem aquecimento
Mais um item a marcá-lo como bem quisto
Registrando sem dúvida este querido movimento
Por aqui no inverno sinto que será sinistro
O vento assovia sem nenhum constrangimento

Que obviamente vai bem como entretenimento,
Aquele estado exótico que alegra a qualquer turista,
Nem em sonho faria disso um procedimento,
Do meu conforto sou um constante e ferrenho ativista

Ouço pombos entre vozes e comidas que meu nariz percebe,
Estão temperando arroz num aroma que à minha ignorância excede,
Não sei aliás qual parte disso preciso resolver primeiro,
A ausência de geladeira ou chão cagado por inteiro

Mas podemos deixar esse tópico para o dia seguinte,
De coisas para se fazer aqui tem muito mais de vinte,
Só elas já me farão suar e querer outro banho frio,
E se não funcionar, um jeito de resolver eu crio :)

Vamos ver o que mais reservam estas paredes,
Além dos furos na cozinha que precisarei tapar,
Tomara que elas aguentem algumas redes,
Taí uma coisa que adoraria por aqui instalar

Os sons esparsos vão deixando enfim espaço,
Para o sono chegar e ocupar com seu cativo traço,
Amanhã tem mais nem preciso pensar no quê,
Pra tudo quanto é lado tem coisa pra não esquecer...

Operação Cafofo III

É um momento de uma certa incoerência,
Pois tudo que menos importa é a aparência,
Até porque, nada é o que ali tem existência,
Pelo menos enquanto não vira uma residência

Está todo cheio de poeira ou imundo mesmo,
Já se imagina a trabalheira pra deixar limpo,
Fica-se perdido naquela zona olhando a esmo,
Enquanto um peteleco derruba a traça subindo

Ao mesmo tempo do chão ao teto,
Surge uma inspiração quase mediúnica,
Baixa na pessoa uma espécie de arquiteto,
Que sai tendo idéia da parte seca à úmida

Seu novo templo é a loja de construção,
Onde você passa a conhecer melhores amigos,
E sai lotado de itens adquiridos em prestação,
Jurando que não precisará de novos artigos

Coisa que não chega a durar sequer a página dois,
Basta descarregar a mala que o "suporte" vem com uma lembrança,
Daquelas que nem dá pra deixar para depois,
E daquele desencontro com o LIS te tira a esperança

Mas tá valendo afinal a causa é nobre
É só ir com calma que a coisa funciona
Não pode faltar mesmo que também não sobre
Ver o projeto seguir é o que te impulsiona

Entrar pelas madrugadas escolhendo cor
Decidindo qual tipo de móvel e onde por
Exercitando a arte do conceder e do se opor
Na doce parte do ambiente a se compor

Enquanto nessa aventura estou no começo
Da ordem das travessuras então eu obedeço
Posso lavar a casa toda com a mangueira
Menos a escada, que é toda de madeira

Ou quem sabe ficar completamente nu no terraço
Já que temos para isso ali um atraente espaço
Tem alguma coisa a se pensar para a varanda
Mas ali com parcimônia pois na frente gente anda...